segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

COISA DE CRIANÇA


Escrito pelo pai:
Se acalmem, foi um peixe Beta vermelho que vivia pacificamente no seu aquário apertado aqui no corredor de casa.
Nós chamávamos o peixe de “peixe” mesmo porque nunca vi sentido colocar nome em algo que não lhe atende quando chamado.
O Beta coitado, não teve pra onde fugir, o Lorenzo o cercou em sua humilde cela aquática, o pegou em seus dedinhos e o levou pro quarto.
Até este momento eu não sabia do acorrido, fui saber longos minutos depois quando entrei em seu quarto e o peguei com o peixe pendurado entre os dedos e sorrindo.
Nossos olhares se encontraram quando passei pela porta, lá estavamos; o pai, o assassino de peixes mirim pego em flagrante, e o peixe agonizante.
“Olha o peixinho!”
Juro, eu custei a acreditar e pensei : “Senhor, que seja um brinquedo! Que seja um peixe de borracha idêntico ao Beta! Por favor!”
Claro que eu sabia que era o desafortunado peixe, mas sei lá, preferi ter um fio de esperança sem sentido do que encarar que meu filho era executor de peixinhos coloridos.
Interessante constatar que nossa reação é sempre imprevisível diante de uma coisa violenta como um filho matando um peixe.
Sei que quando eu era criança fiz maldades com um gato que prefiro nem mencionar.
Lembrei do meu irmão que matou os peixes do aquário de tanto dar YAKULT pra eles! (to rindo....foi engraçado de verdade).
Ora, meu filho não fez nada além do que eu teria feito, e fiz.
Mas não teve perdão! Foi castigado e chorou muito! Ele chorou muito mesmo!
Eu descobri só depois o porque de tanto choro, me cortou o coração de modo que tive que pedir perdão a ele.
Eis a história completa:
Neste mesmo dia em que ele ceifou a vida do peixe, minha vizinha trouxe um pintinho pra brincar com o Lorenzo, ele ficou louco de felicidade, passou horas com o pintinho, abraçou, correu dele, correu atrás dele, fez declarações de amor e até chorou quando o Kinder (nome do pintinho) foi embora.
Depois disto ele ficou sem amigo pra brincar, olhou o peixe e logo se ligou que talvez seu amiguinho BETA quisesse brincar no seu quarto, correr com ele...enfim...ser amigo.
Ele nem se ligou que o peixe não respira fora da água...ele queria se divertir !
Depois de tudo isto, a noitinha, deitado na cama com a mamãe ele contou sua versão e seu motivo para ter feito o que fez.
“Eu não queria matar ele mamãe, eu amo ele, eu queria abraçar um pouquinho, beija-lo”
O que matou o peixe foi o amor do Lorenzo por ele...
De modo que quando eu o castiguei ele ficou muito triste porque achou que não tivesse feito algo de mal para o peixinho. Agora já está tudo bem, o Lorenzo foi perdoado, já esqueceu o que houve.        O peixe foi enterrado, na privada e com direito a descarga.
Fica a lição, pense no modo com o qual você expressa seu amor, porque as vezes, pode ser mortal.
A lição final foi dada pelo Lorenzo a mim quando fui pedir perdão pelo modo como o castiguei sem levar em consideração os sentimentos dele: "Filho, o papai precisa pedir perdão a voce pelo modo como eu te castiguei,ok? Me desculpa?"
Resposta : "Desculpar o que papai?"
Nada a declarar diante de tamanha demostração de graça e perdão.
DOS TEUS PECADOS NÃO MAIS ME LEMBRAREI.
Obrigado filho, eu aprendo muito com seus erros...e eles me revelam o quanto eu ainda preciso aprender.

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